Eva se deixou enganar. Acreditou que o peso de uma maçã poderia lhe tirar a leveza. A culpa golpeou seu estômago como chumbo e se alastrou pelo corpo até chegar no ventre. Dali viria apenas dor. Anos passaram, crenças foram criadas, dimensões transitaram e o Éden foi abandonado por criações de seu solo: o peso da vergonha, dos pecados e da carne. Ninguém mais poderia alcançar a leveza exigida em seus portões. Contudo, no trânsito entre o tempo e as dimensões, uma fada caiu por engano no imenso paraíso inabitado.
A fada de chifres conhecia apenas a leveza de seus passos. Não enxergava a serpente, nem o criador, mas encontrou a maçã que a seduziu com suas cores e aroma.
A fada mordeu o fruto e o fruto lhe pesou um pouco ao trazer a consciência de que talvez também fosse feita de carne. Não era um grande peso, talvez nem peso fosse. Era apenas a sensação de que seu corpo carnal guardava um espectro muito grande e podia lhe servir de força, de arma ou prazer.
A fada de chifres aceitou aquela verdade e até hoje reina sobre si sem carregar culpa alguma.